Tabagismo e etilismo são causas do câncer bucal

“Quando a pessoa usa o tabaco e o álcool, a probabilidade do desenvolvimento do câncer de boca aumenta muito”. A afirmação é da professora de Patologia Bucal da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP), Andréa Mantesso. Câncer de boca é um nome genérico para todas as neoplasias malignas da boca. Entre elas, a mais comum é conhecida como Carcinoma Epidermóide, que responde por mais de 90% dos casos no Brasil. Esse carcinoma incide principalmente em três locais: no lábio inferior – causado pelo sol -, na região lateral da língua (borda lateral) e sob a língua no chamado assoalho bucal – esses dois últimos causados pelo tabagismo e pelo etilismo.

Uma pesquisa feita no Brasil mostra que mais de 90% das pessoas com câncer de boca fumavam e usavam álcool. O álcool potencializa a ação dos carcinógenos do cigarro. O cigarro tem mais de 4.700 substâncias tóxicas, entre elas a nicotina que causa a dependência, e o alcatrão, que possui numerosas substâncias cancerígenas (em torno de 48), que podem levar a formação do câncer.

Estudos mostram que o câncer bucal atinge mais indivíduos do sexo masculino acima dos 40 anos de idade. Contudo, os números estão mudando, pois a quantidade de mulheres que fazem uso do tabaco e do álcool é crescente, assim, o número de casos de câncer de boca no sexo feminino tem aumentado muito com o passar dos anos.

Em algumas regiões do mundo, a doença tem alguns traços diferentes. Na Índia, por exemplo, onde as pessoas têm o hábito de mascar tabaco o câncer acontece numa idade mais precoce e com características clínicas diferentes. Em relação ao Brasil, uma verdade é que o câncer de boca atinge mais pessoas de baixa renda e o diagnóstico em geral ocorre em fase tardia, onde as lesões são maiores e muitas vezes já comprometeram estruturas importantes, piorando o prognóstico, garante a professora Andréa.

Diagnosticar uma lesão com potencial de se transformar em câncer, ou mesmo diagnosticar o câncer já instalado em estágio inicial é muito importante. Isso pode ser feito com auxílio profissional ou através do auto-exame. “O auto-exame nada mais é do que a observação dos lábios e do interior da boca, prestando bastante atenção em regiões específicas, como na borda lateral da língua, no assoalho bucal e no lábio inferior”.

Explica a professora. O câncer em geral não dói e pode aparecer no auto-exame como uma área ulcerada em geral de base fixa, uma mancha branca, uma mancha vermelha ou a mistura desses aspectos. As lesões cancerizaveis também podem se apresentar dessa forma. “Identificar as lesões pré-malignas ou o câncer num estágio precoce é o ideal e o dentista tem um papel muito importante na identificação destas alterações. O diagnóstico nas fases iniciais dessas lesões leva à cura dessa doença”, afirma Andréa. Ela diz, no entanto, que o tratamento varia de caso para caso.

No Brasil, a maioria dos casos de câncer de boca é diagnosticada entre 3 e 12 meses após o indivíduo perceber as primeiras manifestações. Tendo em vista que no início a lesão é assintomática, neste momento, em geral, o tumor já está grande e comprometendo estruturas importantes.

A professora acredita que essa demora no diagnóstico se deve em parte à falta de informação. Assim, é importante saber que o câncer começa a se formar muito tempo antes de aparecer e, muitas vezes, uma pessoa tem uma lesão pré-maligna e pode passar muitos anos até desenvolver o câncer. Além disso, muitas vezes o paciente tem receio de procurar o profissional por medo de que tenha algo grave. “Você fala vamos fazer uma biópsia e a pessoa já acha que esta com câncer”, diz Andrea.

Os vários tipos de câncer de uma maneira geral têm um papel hereditário muito forte. O câncer de mama é um exemplo muito claro disso, “se a avó teve e/ou a mãe teve, a filha muito provavelmente tem a tendência, então ela tem que se cuidar”, diz a professora. Já o câncer de boca está mais vinculado a fatores externos, encontrados, por exemplo, em carcinógenos do cigarro ou na exposição a raios ultravioletas. Outras condições como a desnutrição e a anemia por deficiência de ferro também podem influenciar na formação do tumor.

Sobre pesquisa publicada na revista NewScientist que vincula o vírus HPV ao câncer de boca, a professora diz: “o HPV é uma família de vírus e os tipos 16 e 18 estão mais vinculados ao desenvolvimento de neoplasias no colo de útero. Essa pesquisa que foi publicada, mostra que com a prática do sexo oral é possível a inoculação do vírus na boca”.

No entanto ela garante que isso é algo que ainda não está muito esclarecido na literatura científica, pois não se sabe ao certo qual é o papel do vírus, “não se sabe ao certo se ele está mais vinculado na formação do tumor ou apenas associado de forma secundária”. Enfim, são necessários estudos mais apurados a esse respeito.

A professora recomenda que as pessoas não fumem e que não exagerem no álcool e na exposição solar. Além disso, é importante que as pessoas examinem a boca. “É comum a pessoa se olhar no espelho, ver o rosto, o cabelo, a parte estética em geral e esquecer de olhar dentro da boca. É preciso que as pessoas se cuidem, que tenham hábitos saudáveis de alimentação e higiene e que olhem para os lábios e para dentro da boca, e se porventura verificarem alguma alteração, é importante que elas saibam que devem procurar ajuda profissional”.

O indivíduo deve consultar o dentista sempre que sentir necessidade, e não só quando estiver com dor ou com alguma restrição, pois o câncer de boca em geral não dói. Muitas vezes a pessoa consulta o profissional quando já está com dificuldade para falar, deglutir, formigamento no rosto etc. Nesses casos o câncer já invadiu estruturas profundas e o tratamento e o prognóstico já estão comprometidos.

A FOUSP possui uma liga de prevenção e diagnostico do câncer bucal onde são feitos exames e, além disso, também faz campanhas de diagnóstico. Mais informações sobre isso podem ser adquiridas na Odonto Jr localizado na Av. Professor Lineu Prestes, 2227, ou através dos telefones 3091-7727 / 3816-4163