Tratamento dentário pode reduzir o risco de parto pré-termo

Um estudo publicado no Journal of Periodontology, na Grã-Bretanha, sugere que o tratamento de doenças periodontais podem reduzir em até 84% os nascimentos prematuros. Os pesquisadores descobriram que infecções periodontais graves levam ao aumento na produção de prostaglandina, uma das substâncias que podem induzir o parto pré-termo.Segundo o diretor do Departamento de Periodontia da APCD, EduardoSaba-Chujfi, as doenças periodontais vêm sendo apontadas como maisuma infecção capaz de causar nas gestantes partos de crianças prematuras e com baixo peso (menos de 2.500g). “Nos EUA, 7,3% dos recém-nascidostêm baixo peso. A probabilidade de que as gestantes com grande perda deinserção tenham crianças com baixo peso é sete vezes maior. As prostaglandinase o fator tumoral de necrose estão muito aumentados na infecção e podem ocasionar a entrada precoce em trabalho de parto. O nível de prostaglandina é duas vezes maior em mães que tiveram filhos com baixo peso”, explica. “O tratamento periodontal reduz a prevalência de recém-nascidos com baixo peso.” No processo do trabalho de parto, as prostaglandinas apresentam um papel importante: são sintetizadas namembrana decídua e fetal e agem amadurecendo o colo, mudando aestrutura da membrana e contraindo o miométrio. “As concentrações deprostaglandina aumentam no fluido amniótico e no córion e amnion no trabalho de parto. A formação de prostaglandina também é importante naindução do trabalho de parto pré-termo pela infecção periodontal, em queos mecanismos biológicos envolvem a ativação bacteriana da imunidade celular, com aumento da produção e secreção de citocinas inflamatórias, como Il 1, Il 6 e TNF, que são indutoras potentes de prostaglandinas e do trabalho de parto”, detalha a periodontista Gabriela Traldi Zaffalon. A medicina ainda não consegue diagnosticar ou mesmo prevenir muitosnascimentos permaturos. “Independentemente de poder afirmar ou não ser a doença periodontal um novo fator de risco para o nascimento deprematuros, uma avaliação e tratamento periodontal deveriam estar incluídos no programa de assitência prénatal para garantir a saúde das gestantes, refletindo em melhoria da qualidade de vida”, alerta a Cirurgiã-Dentista Lenize Poubel. Apesar de a incidência de parto pré-termo no Brasil ser em torno de 11%, ainda não há dados epidemiológicos sobre a incidência de parto prétermo atribuída exclusivamente às doençasperiodontais. Segundo o professor de periodontia Silvio Antonio dos Santos Pereira, talvez seja muito difícil determinar com margem de segurança esta incidência, pois a etiologia do parto pré-termo é multifatorial. “Ainda que boa parte dos partos pré-termos seja causada por infecções clínicas e até mesmo subclínicas do trato genital inferior, a idade, etnia, estado civil, tabagismo, alcoolismo, desnutrição, condições socioeconômicas relacionadas ao trabalho, higiene e moradia, antecedentes ginecológicos, problemas gestacionais, assistência pré-natal inadequada ou até mesmo ausente estão entre as principais causas que fazem que a gestante entre em trabalho de parto antes das 37 semanas.” Identificar fatores de risco é muito mais fácil do que separar aquele que realmente seja o determinante ou aqueles que possam agir de forma indireta. As pesquisas científicas desses últimos anos têm demonstrado que a infecção periodontal, principalmente as periodontites, podem ter papel importante neste processo, ou como fator de risco independente, ou agindo de forma sinérgica na presença de outras infecções. “O tratamento odontológico dessas pacientes consiste principalmente na prevenção, por meio de controle periodontal periódico. Caso a paciente já apresente algum tipo de doença periodontal, deve ser tratada o mais breve possível para o controle da infecção por meio de profilaxia, controle de placa e orientação de higiene bucal, e, se necessário, raspagem supra ou subgengival”, ressalta a Cirurgião-Dentista Viviani Pompei. Aproximadamente um terço dos partos pré-termos são eletivos, devido à hemorragia do terceiro trimestre, grave restrição ao crescimento fetal, ou a síndromes hipertensivas que exigem aantecipação do parto. A maioria dos casos restantes estão associados à ruptura prematura de membranas ou ao trabalho de parto prematuro, patologias de elevada prevalência e difícil prevenção, onde se enquadrariam as doenças periodontais. O tratamento periodontal deve eliminar o processo infeccioso. A cura é alcançada quando a gestante é motivada em relação ao controle dos biofilmes bucais e o profissional está empenhado na remoção mecânica daqueles biofilmes localizados nas regiões supra e subgengivais. “Como ocorrem com todos os tratamentos odontológicos em gestantes, alguns cuidados devem ser observados, principalmente em relação ao tempo de atendimento, que não deve ser prolongado em virtude da posição em decúbito dorsal, prescrição de medicamentos e utilização de raios X”, explica Silvio Pereira. “Na verdade,é muito importante que o Cirurgião-Dentista participe do pré-natal, comações que contribuam para motivar a gestante quanto à importância dasaúde bucal, reduzindo, desta forma, a incidência de infecções bucais, a produção de citocinas pró-inflamatórias, a possibilidade de patógenos periodontais atravessarem a barreira placentária via hematogênica, a transmissão vertical de possíveis microrganismos patogênicos da cavidade bucal materna e, por conseguinte, a incidência de parto pré-termo.”